Patrimônios de Macaé serão registrados em Carta Arqueológica para preservação
03/04/2014 12h05 - Jornalista: Andréa Lisboa
Foto: Divulgação
A Carta Arqueológica será uma ferramenta para orientação das empresas interessadas em se instalar em Macaé
A Carta Arqueológica será uma ferramenta para orientação das empresas interessadas em se instalar em Macaé. O documento, que servirá de base à concessão de licenças ambientais e para obras, pretende ordenar o desenvolvimento econômico de forma que esse não entre em conflito com a preservação ambiental e patrimonial do município.
Por esse motivo, as pesquisas arqueológicas são apoiadas pelo Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social (Fumdec). “O desenvolvimento econômico passa pelo desenvolvimento científico", frisa o presidente do fundo, Wandré Guimaraes.
A equipe desse órgão, liderada pelo doutor em Arqueologia e historiador Gustavo Peretti Wagner, esteve no final de março na Ilha do Francês e aguarda autorização da Capitania dos Portos para realizar uma prospecção, ainda este mês, à Ilha de Sant’Anna. A Carta Arqueológica será elaborada por profissionais especializados do Fumdec, do Solar dos Mellos (Museu da Cidade) e da Secretaria de Ambiente.
- A disponibilização pública do mapeamento no Portal da Prefeitura constitui ferramenta importante, na medida em que explicita, com precisão georreferenciada, os bens tombados, as áreas de interesse histórico e de preservação ambiental do município. A carta constitui um índice estratégico, afirma Gustavo.
Segundo o arqueólogo, esse levantamento possibilitará a valorização e a preservação desses patrimônios, através da conscientização dos empreendedores e da população em geral da importância desses espaços. O projeto, por meio de educação patrimonial, tem também a proposta de reforçar sentimentos de pertencimento e propriedade na sociedade, contribuindo para a manutenção dos laços de identidade.
Na excursão à Ilha do Francês foi registrada a presença de substratos de ocupação que poderão levar à identificação de camadas arqueológicas. Entretanto, não foram encontrados vestígios de Sambaqui, caracterizado por zoólitos específicos e por áreas propícias para a confecção de objetos de pedra polida.
Pesquisas
Macaé figura nos arquivos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Iphan como detentora de 14 sítios arqueológicos. Somam-se a estes os sítios descobertos nas pesquisas de licenciamento ambiental (EIA/Rima) oportunizadas pela instalação de grandes obras de engenharia no município. O município tem ainda um imenso potencial arqueológico subaquático. O intenso trânsito de naus portuguesas, holandesas e francesas entre os cabos São Tomé e Frio aponta para a possibilidade de sítios de naufrágio, a exemplo do famoso Galeão Português carregado de prata naufragado nos mares de Cabo Frio que até hoje atrai o turismo de mergulho e caçadores de tesouro aventureiros.
Os sambaquis (um tipo de sítio arqueológico) do Rio Macaé permitiram a identificação de um dos estágios de desenvolvimento cultural da pré-história nacional, marcando uma fase da história evolutiva do Homem na América através da ‘Fase Macaé’, estabelecido pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). O programa foi empreendido, na década de 1960, por iniciativa do CNPq (então Conselho Nacional de Pesquisas) em parceria com o Smithsonian Institution (Washington, DC.). Neste sentido, Macaé foi palco do processo de instalação da pesquisa científica em moldes modernos na Arqueologia Nacional e imprimiu seu nome nos manuais de pré-história e principais publicações científicas da área.
- Pouco sabemos a respeito de todos estes sítios. Sequer possuímos seus dados básicos de localização ou conhecemos seu grau atual de preservação. A salvaguarda do patrimônio arqueológico macaense é de responsabilidade da administração municipal e o rápido crescimento imobiliário e industrial da cidade constitui ameaça premente. É necessário que permaneçamos atentos, no objetivo de evitar que uma riqueza científica descoberta e enaltecida no passado se transforme em experiência negativa no presente, ressalta Gustavo.
História
A Arqueologia Brasileira foi inaugurada através dos esforços e financiamento do Imperador D. Pedro II que, na qualidade de mecenas, acompanhou pessoalmente diversas escavações nos sambaquis do país. Nos anos finais do século XIX, Ladisláu Netto, como emissário do Museu Nacional do Rio de Janeiro, realiza os primeiros estudos arqueológicos nas serras de Macaé.
A publicação de Netto é datada de 1877 e noticia a descoberta de um pequeno crânio com calota superior muito espessa. O crânio de Macaé (crânio nº. 8 da coleção do Museu), como ficou conhecido, possuía elementos morfológicos que o aproximava dos crânios da região de Lagoa Santa, aos quais se atribuía a maior antiguidade registrada para todo o Continente Sul-Americano, tornando a Arqueologia de Macaé conhecida mundialmente.
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