Manifestações no Rio e em São Paulo mostram a diferença entre Dilma e Aécio
23/10/2014 13:23
Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
Mesmo sem a presença da candidata petista, presidenta Dilma Rousseff, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Cinelândia, no Centro do Rio, foi tomada por um mar de bandeiras vermelhas, na noite passada. O que seria o comício de encerramento da campanha, cancelado em cima da hora pela coordenação do comitê, transformou-se em uma festa da esquerda carioca. Cerca de 20 mil pessoas, segundo os organizadores, muitas delas usando bottons, camisetas e adesivos com o número 13, tomaram o espaço em frente à Câmara dos Vereadores e do Theatro Municipal, tradicional ponto de encontros políticos na cidade. A mobilização no Rio de Janeiro constrastou com o ato produzido por cerca de 800 simpatizantes da campanha tucana, em São Paulo, que começou com protestos contra a democracia e a favor de um novo golpe militar no Brasil, e terminou em pancadaria.
No Rio, com a ausência dos principais convidados, parlamentares eleitos e líderes partidários, como o cientista Roberto Amaral, ex-presidente do PSB e dissidente da campanha de Marina Silva. Amaral foi à Cinelândia e, no carro de som, garantiu que votará em Dilma. Ao lado dele, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), entre outros parlamentares presentes ao ato público, ressaltaram a necessidade de não permitir “um retrocesso político no país”, como afirmou Amaral.
Lindbergh, em seu discurso,lembrou que o candidato tucano, Aécio Neves, recebeu salário sem trabalhar, na Câmara dos Deputados.
– Enquanto Aécio Neves era funcionário fantasma de seu pai na Arena, aqui na Cinelândia o povo resistia à ditadura militar – disse.
O deputado estadual Carlos Minc (PT), que esteve com a candidata em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde realizou uma carreata à tarde, lembrou que a crise de água em São Paulo, Estado governado pelo PSDB há 20 anos, é de responsabilidade dos tucanos.
– Enquanto Lula e Dilma tiraram o Brasil do mapa da fome (da ONU), os tucanos colocaram São Paulo no mapa da sede – apontou.
Enquanto os líderes da esquerdadiscursavam, no palanque, o público socializava com amigos e pessoas que acabavam de conhecer. Na multidão, o avatar de Dilma que inunda as redes sociais, no qual a presidenta usa óculos, saiu da realidade virtual para os rostos das meninas, como a estudante de Cinema na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro Julia Karam, 21, que também se vestiu de vermelho para homenagear a candidata petista.
– Uso esses óculos porque preciso, tenho um grau avançado de miopia, mas a escolha dos óculos tem tudo a ver com o avatar da Dilma. Já vi muitas outras meninas usando. É tendência – avaliou.
Ato paulistano
Na capital paulista, simpatizantes do candidato Aécio Neves realizaram, também no final da tarde, uma passeata na Avenida Brigadeiro Faria Lima, Zona Oeste. De cima do carro de som, o deputado federal Paulinho da Força (SD), que apoiava os candidatos petistas nas últimas eleições, puxava os gritos de “fora, PT”. Ao lado dele estavam o ex-jogador Ronaldo, a cantora Wanessa Camargo, o humorista Juca Chaves e o vereador Floriano Pesaro (PSDB), único líder tucano em cima do carro de som ao longo do percurso.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apareceu durante a concentração, no largo da Batata, mas foi embora alguns minutos depois. Segundo Milton Flávio, presidente do PSDB paulistano, aquele não foi organizado pelo partido.
– Um ato convocado pela sociedade civil, que não tem ligação com nenhum partido, mas que reuniu todos aqueles que clamam por uma mudança e pedem que o Brasil volte a ser o que era – esquivou-se.
O que não faltou no ato público tucano foram xingamentos a Dilma Rousseff, ao PT e aos símbolos da esquerda. Até o compositor Chico Buarque, que apoia a candidata petista, transformou-se em motivo de ódio para os manifestantes:
“Chico Buarque, vai cantar Geni na m*”, gritavam.
A sede de caça aos comunistas tomou conta do ato:
– A nossa bandeira jamais será vermelha! – gritavam os integrantes da ultradireita.
Um cartaz com os dizeres “Viva a liberdade! Fora o comunismo!” foi afixado na frente do carro de som que levava as celebridades. Os simpatizantes do tucano também fizeram uma versão de “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, hino da resistência à ditadura militar. “Dilma vai embora que o Brasil não quer você / aproveita e leva embora os vagabundos do PT”.
No Largo da Batata, o clima lembrava um happy hour. Muitos vestiam roupas de grife e bebiam cerveja em garrafas long neck. Em cima do carro de som, um mestre cerimônia, um dos poucos negros no ato, tentou puxar o jingle de Aécio, inspirado na música “Festa”, de Ivete Sangalo.
“Agora é Aécio, pra mudar, o povo do gueto mandou avisar”. Sem empolgar o público, ele lamentou. “Vocês não gostaram dessa? Ninguém me acompanhou”…
Deslocado na manifestação, o recém-eleito deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho do também deputado federal Jair Bolsonaro, não conseguia encontrar os amigos que lhe convidaram para o protesto, chamado por ele de demonstração “contra o pessoal que tá com o PT”.
No domingo, Jair Bolsonaro foi alijado pela direção do PSDB do Rio no ato que Aécio promoveu em Copacabana, Zona Sul da capital fluminense. Sem um convite para subir no carro ou tirar fotos com o presidenciável, o deputado reclamou.
– É complicado. Ele (Aécio) aceita o apoio daquele maconheiro Eduardo Jorge (candidato à Presidência pelo PV) e rejeita o nosso, que somos representantes de três milhões de militares. Mas o Aécio querendo ou não nós e nossos eleitores vamos votar nele – disse, visivelmente chateado.
O ato terminou esvaziado, de forma melancólica, em frente ao Shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos da cidade.
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