domingo, 23 de abril de 2017

Macron e Le Pen disputarão segundo turno das presidenciais francesas

AFP / Joël SAGET, Eric FeferbergCombinação de fotos feita em 23 de abril de 2017 mostra os candidatos Emmanuel Macron e Marine Le Pen
O candidato de centro e pró-europeu Emmanuel Macron e sua adversária, a ultradireitista Marine Le Pen, disputarão, em 7 de maio, o segundo turno das presidenciais francesas, nas quais Macron é favorito, após o castigo infligido nas urnas, neste domingo, aos partidos tradicionais.
O resultado da primeira rodada é implacável. É a primeira vez em quase 60 anos que a direita estará ausente do segundo turno e a primeira que não terá representantes dos dois grandes partidos que dominam a política francesa em meio século: os socialistas do presidente François Hollande e os conservadores liderados por François Fillon.
Segundo as projeções de três institutos de pesquisa, a diferença entre Macron e Le Pen é muito estreita, com 23,3% a 24% dos votos para o primeiro e 21,6% e 21,8% para a segunda. Seguem-nos o conservador Fillon e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Aos 39 anos e à frente de um novo partido, o Em Marcha!, Macron, que não se considera nem de esquerda, nem de direita, ganhou a primeira etapa de uma disputa arriscada, sem nunca ter se submetido ao veredicto das urnas.
"A voz da esperança"
"Em vosso nome, encarnarei (...) a voz da esperança para nosso país e para a Europa", declarou Macron, que se apresentou como o "presidente dos patriotas frente à ameaça dos nacionalistas".
"Os franceses expressaram seu desejo de renovação", declarou o ex-banqueiro, a quem duas pesquisas realizadas neste domingo à noite o apontam como o vencedor do segundo turno por ampla maioria. Uma lhe atribui 62% dos votos contra 38% para Le Pen, e outra, 64% contra 36%.
Hollande, de quem foi ministro da Economia, telefonou para cumprimentá-lo. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o saudou em um tuíte no qual lhe desejou "sorte para o futuro".
Marine Le Pen, de 48 anos, ficou exultante de alegria diante do que chamou de "resultado histórico" e "uma etapa superada" para o partido Frente Nacional (FN), com o qual repetiu a façanha de seu pai 15 anos depois.
"A grande alternância"
Os franceses terão que escolher entre a "globalização selvagem", disse Le Pen, referindo-se a Macron, e "a grande alternância", que para ela representa seu programa.
AFP / Laurence SAUBADUSegundo turno: disputa Macron e Le Pen
Toda a classe política francesa, de direita e de esquerda, pediu que se detenha a ultradireita, como Fillon, que disse que Le Pen só traria "desgraça", "divisão" e "caos".
Qualquer um dos dois fará história: Macron como o presidente mais jovem e Le Pen como a primeira mulher a chefiar o Estado francês.
Uma vitória de Macron representaria um alívio para a União Europeia (UE). Macron fez uma campanha com um programa abertamente pró-europeu e liberal. A Alemanha, voz ativa da UE, se declarou feliz com o resultado.
É que se Marie Le Pen vencer, ao contrário, viria uma grande época de incertezas para a UE, devido à sua defesa da saída do euro, que poderia representar um golpe fatal para um bloco já debilitado pelo Brexit.
Capitalizando o cansaço dos franceses com o sistema, a ultradireitista se beneficiou da mesma onda populista que propulsionou a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, com um programa centrado na "preferência nacional".
Apesar da ameaça de atentados extremistas que pairava sobre estas eleições, os franceses não se amedrontaram e compareceram em massa às urnas. A participação beirou os 70%, uma das mais altas dos últimos 40 anos.
A reta final da campanha foi sacudida, esta semana, por um atentado na emblemática avenida Champs Elysées de Paris e pela descoberta de um atentado iminente, em um país traumatizado por uma onda de ataques extremistas que deixaram mais de 230 mortos desde 2015.
Neste clima de tensão máxima, as autoridades não pouparam em termos de segurança em todo o território para a votação, com o envio de mais de 50.000 policiais e gendarmes, que contaram com a ajuda de 7.000 militares.
No nível interno, estas eleições são consideradas cruciais em um país com uma economia golpeada pelo desemprego e por um crescimento que não avança desde a crise de 2008.
A corrida ao Palácio do Eliseu tem sido atípica. Enfraquecido por uma impopularidade recorde, Hollande foi obrigado a renunciar de concorrer novamente. O candidato governista, Benoît Hamon, não chegou aos 7% dos votos.
A campanha esteve marcada pelos problemas judiciais, o que relegou ao segundo plano o debate das questões importantes.
François Fillon pagou um alto preço pelo escândalo dos supostos empregos fantasmas de sua esposa, Penelope, e de dois de seus filhos.
Le Pen também também é objeto de uma investigação por supostos empregos fictícios no Parlamento Europeu, onde ocupa uma cadeira, e por supostas irregularidades no financiamento de campanhas passadas.
Entretanto, ela se nega a ser interrogada pela justiça, invocando sua imunidade parlamentar.
Macron e Le Pen terão agora 15 dias para convencer os 47 milhões de eleitores de que são a melhor opção para comandar o país.
Aquele que vencer logo terá que criar alianças visando as legislativas de junho, que ocorrem em dois turnos, e que até então favoreceram os partidos tradicionais.

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