terça-feira, 28 de outubro de 2014

ovos desafios, agora em Brasília

Publicado em 25/10/2014


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Paulo Renato Pinto Porto

Clarissa Garotinho (PR), eleita deputada federal com 335.061 votos, a segunda maior votação no Estado do Rio de Janeiro e a parlamentar do sexo feminino mais votada em todo o Brasil para o cargo nas Eleições 2014, fala dos novos desafios que terá à frente a partir do ano que vem, quando tomará posse em Brasília (DF). "A defesa dos royalties do petróleo para os estados e municípios produtores. A defesa da nossa água. A fiscalização dos investimentos em Educação a partir dos recursos do Pré-Sal. E a bandeira dos aposentados", enumerou Clarissa como as principais bandeiras que irá defender na Câmara Federal para representar a população do Estado do Rio. Nesta entrevista a O Diário, a deputada faz uma avaliação da atual disputa eleitoral e ainda sobre a sucessão municipal em Campos. 

O Diário (OD) - Como se sente como a segunda deputada federal mais votada do Rio de Janeiro e a mulher mais votada do Brasil para o cargo? Como avalia a dimensão desta responsabilidade?
Clarissa Garotinho (CG) - Só tenho a agradecer à população do meu Estado, que me elegeu com 335.061 votos, me fazendo a segunda deputada mais votada do Rio de Janeiro e a mulher mais votada do Brasil para deputada federal. Com certeza essa votação expressiva só aumenta a nossa responsabilidade. Mas me sinto preparada para este novo desafio.

OD - Quais os planos agora como representante do Rio na Câmara Federal, com a expressiva votação que obteve nas urnas? Quais as principais bandeiras que irá defender em Brasília?
CG - Maior distribuição de recursos para os municípios brasileiros. A defesa dos royalties do petróleo para os estados e municípios produtores. A defesa da nossa água. A fiscalização dos investimentos em Educação a partir dos recursos do Pré-Sal. E a bandeira dos aposentados.

OD - Tem conversado com seu pai sobre sua nova missão em Brasília? Tem se aconselhado com ele, com toda experiência que possui?
CG - Brasília vai ser uma experiência nova. Garotinho foi um grande deputado federal. A atuação dele foi destacada e está na lista do DIAP, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, como um dos deputados mais influentes do Congresso. Claro que os conselhos dele são muito importantes.

OD - Como alguém que viajou por todo o Estado na campanha eleitoral, que avaliação fez da disputa? Sabe-se que seria difícil, mas ninguém imaginava Garotinho fora do segundo turno. O que faltou, em sua avaliação, para que ele pelo menos viesse a disputar o segundo turno no Rio?
CG - As forças populares se dividiram em três no primeiro turno. Foi uma campanha muito difícil. Poucos recursos, pouco tempo de televisão, aliados que se renderam às facilidades oferecidas pelo grupo que comanda o Governo do Estado. Entre outras questões ainda mal explicadas, como resultados tão diferentes entre a pesquisa de boca de urna e as urnas abertas. Mas isso é debate para outro momento.

OD - É muita responsabilidade ser filha do Garotinho em Brasília ou esse fato lhe facilita, lhe abre as portas?
CG - Ainda não cheguei lá. Só ano que vem. Mas acho que ser filha de um político tem sempre os dois lados.

OD - Qual a avaliação que faz do seu mandato na Assembleia Legislativa?
CG - Foi um mandato bastante atuante. Tive voz ativa na Comissão de Educação e assumi a presidência da Comissão de Assuntos Municipais. Apresentei vários projetos de Lei e aprovei alguns, como a Lei do Primeiro Emprego. Fiz diversas representações ao Ministério Público, ingressei com ações populares na Justiça. Tenho orgulho do meu mandato. Sempre defendi o que achava certo e melhor para o nosso Estado.

OD - Como avalia a questão da sucessão municipal em Campos, com Rosinha em seu último mandato, e num momento em que os partidos de oposição já antecipam discussões e projeções em torno de uma pré-campanha em 2015?
CG - Ainda é cedo para antecipar nomes. Com relação às movimentações que estão acontecendo, eu penso que a população vai cobrar coerência daqueles que foram da base do governo durante todo esse tempo e agora, de forma oportunista, tentam se movimentar para a oposição. O PT tentou fazer isso em nível estadual. Foi parte do Governo Cabral durante sete anos e, para lançar um candidato, quis fazer discurso de oposição. Não funcionou.

OD - Em entrevista anterior, a senhora disse que já listou um total de 10 projetos que irá defender em Brasília. Poderia enumerá-los?
CG - São projetos na área de Educação, Saúde da Mulher e alterações no Estatuto do Idoso.

OD - Para Campos e região, alguma novidade nesses projetos ou ações suas em Brasília nesses próximos quatro anos?
CG - Campos está no meu coração. Só tenho a agradecer à minha querida cidade. Fui a deputada federal mais votada no município, a mais votada de todas as zonas eleitorais, inclusive nos redutos tradicionais da oposição. Minha atuação em Brasília vai honrar toda esta confiança. Eu e Paulo Feijó faremos uma grande parceria pela nossa região.

OD - A questão dos royalties ainda depende da classe política ou não mais, já que se encontra no Supremo Tribunal Federal? Qual a sua análise sobre os royalties? Há algo a fazer ainda no Congresso ou agora a questão terá que ser decidida mesmo no Judiciário?
CG - Neste momento a decisão está no Supremo Tribunal Federal. Mas a nossa voz tem que continuar ativa.

OD - Como avalia a questão da reforma política que dormita no Congresso. Sairá do papel nesta legislatura?
CG - O grande problema da reforma política é que ela contraria interesses de muitos políticos. E quem vota a reforma? Eu defendo financiamento público e de pessoas físicas nas campanhas eleitorais. Defendo tempo máximo de TV, assim como hoje existe o mínimo. Defendo principalmente que a gente avance para uma democracia mais participativa. Nossa Constituição tem instrumentos para isso, como o referendo, o plebiscito e as leis de iniciativa popular. Mas usamos pouco esses instrumentos de participação.

OD - E a reforma tributária, outro clamor que se arrasta em Brasília sem que haja um avanço?
CG - Todo presidente promete e não faz. Não querem abrir mão de recursos. O primeiro passo é distribuir melhor as receitas tributárias, hoje concentradas nas mãos da União. Ao longo dos anos estão repassando responsabilidades maiores às prefeituras sem repasse de recursos na mesma proporção. Resultado: municípios quebrados em todo o Brasil. Outro passo é tentar diminuir a carga tributária extremamente elevada.

OD - Como analisa essa disputa presidencial? Como imagina o Brasil num futuro Governo Dilma ou Aécio? Já se posicionou em favor de um ou outro?
CG - Voto na Dilma. Não sou fã do PT. Não tenho paixão nesta eleição. Mas nossa cidade contou com a parceria da presidente Dilma. Recebemos a visita de vários ministros: Agricultura, Saúde, Esportes, Aviação Civil. Recebemos investimentos. Tivemos projetos aprovados no Governo Federal. Outro ponto importante a se destacar é que mesmo com a crise internacional que evidentemente influencia o Brasil, estamos conseguindo passar pela crise sem redução de salários e sem corte de empregos. Em outros países a situação é bem diferente.

OD - As manifestações do ano passaram sacudiram o País, havendo uma previsão de que impactasse o resultado dessas eleições, mas o que se viu foi que o movimento não efervesceu durante a Copa do Mundo. Enfim, qual sua leitura dessas manifestações que tiveram o ex-governador Sérgio Cabral como maior vilão, enquanto seu sucessor chegou em 1º lugar no Rio no primeiro turno, e o seu filho, Marco Antônio, é eleito deputado federal?
CG - Marco Antonio, filho de Sérgio Cabral, fez uma votação inexpressiva diante de tudo que teve. Fez dobradinha com metade dos deputados de mandato da Alerj, teve o apoio de dezenas de prefeitos e material de campanha em fartura. Então, acho que se elegeu pela força do dinheiro. Pezão adotou a tática de se fazer de bom moço e escondeu Sérgio Cabral em toda sua campanha. Eu tenho certeza que quem disse "Fora Cabral" não quer um terceiro governo dele.

OD - Qual a lição que ficou para a classe política com o recado das ruas nos movimentos populares do ano passado?
CG - Acho que a maior lição deve ser para o nosso povo. O povo brasileiro sempre foi considerado passivo e no ano passado a voz da indignação falou mais alto. Precisamos praticar mais a cidadania, cobrar mais nossos direitos, acompanhar mais a vida dos nossos representantes. Um povo mais ativo exigirá uma classe política melhor.

OD - Além do Garotinho e sua mãe, quem lhe inspira mais na política ou na vida? Brizola?
CG - Getúlio Vargas, JK (Juscelino Kubitschek), Brizola e Roberto da Silveira, que foi governador do Estado e teve sua trajetória interrompida tão cedo.

OD - Garotinho tem posicionamento firme e de coragem contra os poderosos, inclusive a própria Rede Globo e o lucro abusivo dos bancos, além da defesa de teses nacionalistas? Hoje, em sua avaliação, é o político que mais se aproxima de Brizola?
CG - É quase "filho" político do Brizola... (risos)

OD - Qual a mensagem que deixaria aos jovens que desejam entrar para a política e aos que dizem detestar política?
CG - A política é bonita na sua natureza. Uma das atividades mais nobres no sentido da importância que ela tem e da capacidade de influenciar nos rumos da sociedade. A política não é nada fácil na prática. Exige muito, em todos os aspectos.

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