sábado, 25 de maio de 2013

ARTE E CULTURA

Em Macaé, uma usina 

elétrica que é galeria de arte




MACAÉ — Um ambiente industrial não costuma ser dos mais hospitaleiros. O francês Philippe Quenet, no entanto, levou arte para para o cotidiano da UTE Norte Fluminense, empresa termelétrica do Grupo Électricité de France (EDF). Diretor da planta localizada em Macaé, ele vem dando cor ao maquinário pesado — usado para gerar energia por meio da explosão de gases —, convidando artistas para pintar e grafitar painéis na usina, responsável pela geração de 830 mw/hora.

Desde 2010, brasileiros e franceses passaram a se pendurar em andaimes e guindastes para desenhar peixes e tartarugas nas instalações da usina. Uma chaminé ganhou o desenho de uma coluna vertebral, e outra está enfeitada por aves típicas da região.

A transformação da fábrica em galeria de arte a céu aberto não passa despercebida por motoristas que trafegam pela BR-101, na altura do km161. Da rodovia, é possível ver um grande painel com 11 imagens de pontos turísticos brasileiros, além da Torre Eiffel. Ao lado da imagem que remete à origem da empresa, estão o Cristo Redentor, os Arcos da Lapa, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e a Catedral de Brasília.

O cenário inusitado para as manifestações artísticas ganhou exposição, na última quarta-feira, na nova galeria de arte da Aliança Francesa, em Botafogo. Nomeada de Usina, reúne fotografias de Clarissa sobre o intercâmbio cultural franco-brasileiro com artistas urbanos da central elétrica. A visitação é gratuita e se estende até o dia 2 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h, e aos sábados das 9h às 13h.
Há cinco anos, Quenet começou a realizar semanas culturais. Nelas, levou para cerca de 75 funcionários dança, música, atrações de circo e exposições de artistas como Burle Marx e Portinari:

— Uma vez, coloquei para tocar músicas de Vivaldi, logo pela manhã. Muitos funcionários, que nunca tinham ouvido uma composição dele, gostaram, desmistificando a música clássica como arte para a elite. Com o tempo, notei uma frustração de ver obras entrando e saindo daqui. Pouco a pouco, decidimos deixar a arte na planta.

O diretor buscou então especialistas para implantar um projeto inédito para todo o Grupo Électricité de France:

— Resolvemos fazer uma mistura entre os mundos rústico, da usina, e lúdico, da arte. Ainda conseguimos combinar as culturas brasileira e francesa, realizando esse intercâmbio de artistas dos dois países. Os funcionários da empresa puderam ver de perto que artistas são pessoas como nós.

‘A arte, a gente sente’

Segurança na usina há 11 anos, Erivelton Gomes nunca visitou um museu ou viajou ao exterior.

— Eu não conheço nada de arte. Mas sinto. A arte, a gente sente. Eu pude cuidar de toda a segurança dos artistas enquanto eles trabalhavam e, por isso, me sinto parte de todo esse processo. Tenho orgulho dele.

Participaram das intervenções os artistas franceses Lazoo, Shaka, Speedy Graphito e RCF1 e os brasileiros Alexandre Orion, Bruno Big, Marcelo Ment e Márcio Piá. Os estilos incluem grafiti, pop art e até um desenho em três dimensões, com uso de metal. Para Ment, grafiteiro de Vila da Penha que já levou a arte de rua para galerias do mundo, a experiência foi desafiadora:

— Estive duas vezes na empresa para pintar uma das chaminés. Os funcionários nos contaram que locais antes pouco frequentados viraram pontos para bate-papo após receberem as intervenções.

Texto e foto: Renata Leite 
 Fábio Rossi / O Globo

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