quarta-feira, 22 de maio de 2013

O ADEUS AO DR. RUY

Corpo do jornalista Ruy Mesquita é

 sepultado em São Paulo

Diretor de jornal morreu nesta terça-feira, 

no Hospital Sírio-Libanês.

 


O corpo do jornalista Ruy Mesquita, (foto) diretor de "O Estado de S. Paulo", foi sepultado na tarde desta quarta-feira (22) no Cemitério da Consolação, na Zona Oeste de São Paulo. Mesquita morreu na noite de terça-feira (21). Ele estava internado desde 25 de abril no Hospital Sírio-Libanês. Os médicos haviam diagnosticado um câncer na base da língua.


Mesquita chegou a fazer uma cirurgia para a retirada do câncer. Os médicos, no entanto, não conseguiram conter o avanço da doença. Segundo a assessoria do hospital, Ruy Mesquita morreu às 20h40 desta terça-feira.


O velório começou durante a madrugada desta quarta-feira na casa do jornalista, na Rua Angatuba, 465, no Pacaembu, e terminou por volta das 14h30. A despedida reuniu familiares, amigos e autoridades, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. O ex-governador José Serra esteve no cemitério onde ocorreu o sepultamento.


Rodrigo Mesquita, filho de Ruy, disse que o pai é o último jornalista do século XX. "Ele foi o último grande jornalista do século XX. Ele deixa a lição de que a missão do jornal é perene. Os jornais sempre foram meios das elites. Eles nunca vão competir com a audiência da televisão, da internet. Agora é uma plataforma de articulação da sociedade. Você encontra ali um retrato diário e hierarquizado do conjunto das informações que nos preocupam. O jornalismo não é só distribuir informação pro etéreo. Você precisa ter um ponto de encontro que seja uma referencia pra uma discussao de onde estamos e para onde vamos. É assim que ele olhava o jornal e é assim que nós vamos continuar olhando o jornal", disse.
Rodrigo Mesquita (Foto: Nathália Duarte/G1) 
Rodrigo Mesquita (Foto: Nathália Duarte/G1)
Repercussão

O vereador Andrea Matarazzo (PSDB) afirmou que Ruy foi um marco na imprensa brasileira. "Um símbolo da imprensa brasileira e um dos grandes defensores da nossa democracia".


"Eu comecei na redação do Estado com 13 anos e o doutor Ruy já era um homem importante, me dava muita ateção como um jovem jornalista. E o papel que ele cunhou como fundador do Jornal da Tarde e como responsável pela opinião de um jornal tão importante faz desse momento uma dificuldade maior pra o Brasil, que carece muitas vezes de lideranças aptas a liderar transições em favor da liberdade, da cidadania, papel que ele e a familia dele sempre desempenharam com grande competência", exaltou Gilberto Leifert, presidente do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária.


Luiz Lara, da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), disse que a história de Ruy se confunde com a história do país. "Acho que o doutor Ruy Mesquita deixa um exemplo de crença na liberdade, na democracia, na livre iniciativa. Sempre foi um defensor das grandes causas desse país".
José Roberto Marinho (Foto: Nathália Duarte/G1) 
José Roberto Marinho (Foto: Nathália Duarte/G1)
 
 
"Ele deixa a lembrança de um homem que lutou. Teve convicção e teve princípios a vida toda e fez jus a esses princípios da liberdade de imprensa, da livre iniciativa, da liberdade geral. Soube conduzir muito bem os jornais e é um grande exemplo pra todos nós", declarou José Roberto Marinho, vice-presidente de Responsabilidade Social das Organizações Globo.


"É uma grande perda, sem dúvida, alguém que lutou a vida inteira pela democracia, pela liberdade em momentos dificéis. Foi um baluarte reconhecido por todos. Acho que ele nos deixa, mas acima de tudo, deixa uma causa, uma missão daquilo que temos que buscar", disse Fábio Colletti Barbosa, presidente-executivo do Grupo Abril. Lázaro de Mello Brandão, presidente do Bradesco, também lamentou o falecimento de Ruy na chegada ao velório. "Foi realmente uma perda importante".
Fernando Henrique Cardoso (Foto: Nathália Duarte/ G1) 
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
 
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou a coragem de Mesquita. "Conhecia o Ruy há 60 anos e ele tinha uma capacidade, um homem que dizia o que pensava, que acreditava, que lutava pelo que acreditava. Foi também um democrata, um homem que não tinha medo, meias palavras, dizia o que pensava. Faz falta porque era um jornalista sério, que buscava informacão precisa, mas também opinava, dizia o que sentia. Vai deixar um vazio enorme. Eu espero que as novas gerações  venham com essa mesma chama."
Alckmin chega ao velório de Ruy Mesquita (Foto: Natjália Duarte/G1) 
Alckmin chega ao velório de Ruy Mesquita
(Foto: Natjália Duarte/G1)
 
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também falou sobre o jornalista. "Doutor Ruy vai fazer muita falta. Um grande brasileiro, dedicou a sua vida décadas para o país ser livre, democrático, ter liberdade de opinião, liberdade de imprensa. Seus editoriais eram norte na política, na economia. Doutor Ruy era um homem compromissado com o bem comum. Ele tinha espírito público. Esse é o grande legado que fica para as gerações novas de jornalistas e para todos que se dedicam à vida pública brasileira."

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também esteve no velório. "É uma perda inestimável. É um homem de conduta muito reta, uma pessoa muito trabalhadora, muito convicta, realizadora. Um trabalhador da notícia, uma pessoa sempre aberta a ouvir argumentos, a refletir, a estabelecer o bom debate na sociedade. Uma pessoa muito admirável. Lamento muito pela família", disse.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (Foto: Nathália Duarte/ G1) 
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
 
O ex-ministro Celso Lafer passou pelo velório. "Doutor Ruy era um homem que defendia a liberdade. Ao mesmo tempo, um homem de muita coragem, tinha a coragem das suas convicções. Ele pôs isso a serviço de uma tarefa excepcional, que foi a missão do jornal. Um jornal que tinha opinião e que tinha informação. Que sabia separar a informação da opinião, mas que fez da opinião uma pedagogia de ideias, que é o que marca o ‘Estadão’ e é o que marcou o ‘Jornal da Tarde’. Uma ausência tremenda porque não vejo ninguém que reúna essa soma de qualidades que ele teve e marcaram a vida do Brasil, o jornalismo e o destino do país."

O ex-governador José Serra esteve no Cemitério da Consolação para o enterro. "Vai ser uma ausência muito sentida no Brasil. O Ruy foi um grande jornalista, seja no que se refere à qualidade da imprensa ou no que se refere a sua combatividade. Era um homem de posições definidas", comentou.
Ex-governador José Serra no enterro de Mesquita (Foto: Nathália Duarte/G1) 
Ex-governador José Serra no enterro de Mesquita
nesta quarta-feira (Foto: Nathália Duarte/G1)
 
 
O diretor de redação do jornal “Folha de S.Paulo”, Otavio Frias Filho, esteve no enterro de Mesquita. "Acho que para todos que estamos ligados ao jornalismo, à comunicação de um modo geral, é uma perda muito grande. Era um exemplo de compromisso com a liberdade, padrão de excelência, qualidade editorial, preocupação com o interesse público. Em todos esses aspectos é uma perda muito grande para as gerações mais novas."


Histórico
Ruy Mesquita era da terceira geração de uma das mais tradicionais famílias de jornalistas do Brasil e por mais de 60 anos esteve na linha de frente do jornal “O Estado de S. Paulo”, conhecido como “Estadão”. O “Dr. Ruy’, como costumava ser chamado, ocupava o cargo de diretor de opinião do “Estadão” e, nos últimos anos, era o responsável direto pelos editoriais do jornal, considerados entre os melhores da imprensa brasileira.
Fundado em 1875 com o nome  de “A província de São Paulo”, o “Estadão”  é  um dos jornais mais antigos e de maior influência no país e, por muitos anos, foi apontado como conservador, embora Ruy Mesquita gostasse de defini-lo como uma publicação de ideias liberais e democratas.


Filho de Julio de Mesquita Filho e neto do patriarca Julio Mesquita, ele nasceu em 16 de abril de 1925 e cursou a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mas trocou os estudos jurídicos pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.


Ao lado do pai, Julio de Mesquita Filho, e já como jornalista, apoiou o golpe de 1964, mas a família rompeu com o regime no ano seguinte, quando as eleições foram canceladas. O Estadão foi o primeiro alvo da censura prévia. Em 1968 chegou a ter a edição apreendida. Os jornais do grupo - como o Jornal da Tarde, fundado por doutor Ruy em 1966 -, entraram para a história do jornalismo ao desafiar os militares com a publicação de poesias e receitas no lugar de textos censurados.


Nos anos 1970, a construção da nova sede na Marginal Tietê, em São Paulo, deixou o grupo em dificuldades financeiras, contornadas apenas anos depois. Em 1996, após a morte do irmão Júlio de Mesquita Neto, doutor Ruy assumiu a direção do "Estadão".


Além do jornal “O Estado de S. Paulo”, o Grupo Estado reúne atualmente a Rádio Eldorado, a Agência Estado, a Oesp-Mídia, a Oesp-Gráfica e o portal Estadao.com.br.
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Família Ruy Mesquita (Foto: Nathália Duarte/G1)Família se emociona durante enterro de Ruy Mesquita nesta quarta-feira (Foto: Nathália Duarte/

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