Corpo do jornalista Ruy Mesquita é
sepultado em São Paulo
Diretor de jornal morreu nesta terça-feira,
no Hospital Sírio-Libanês.
O corpo do jornalista Ruy Mesquita, (foto) diretor de "O Estado de S. Paulo",
foi sepultado na tarde desta quarta-feira (22) no Cemitério da
Consolação, na Zona Oeste de São Paulo. Mesquita morreu na noite de
terça-feira (21). Ele estava internado desde 25 de abril no Hospital
Sírio-Libanês. Os médicos haviam diagnosticado um câncer na base da
língua.
Mesquita chegou a fazer uma cirurgia para a retirada do câncer. Os
médicos, no entanto, não conseguiram conter o avanço da doença. Segundo a
assessoria do hospital, Ruy Mesquita morreu às 20h40 desta terça-feira.
O velório começou durante a madrugada desta quarta-feira na casa do
jornalista, na Rua Angatuba, 465, no Pacaembu, e terminou por volta das
14h30. A despedida reuniu familiares, amigos e autoridades, como o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. O
ex-governador José Serra esteve no cemitério onde ocorreu o
sepultamento.
Rodrigo Mesquita, filho de Ruy, disse que o pai é o último jornalista
do século XX. "Ele foi o último grande jornalista do século XX. Ele
deixa a lição de que a missão do jornal é perene. Os jornais sempre
foram meios das elites. Eles nunca vão competir com a audiência da
televisão, da internet. Agora é uma plataforma de articulação da
sociedade. Você encontra ali um retrato diário e hierarquizado do
conjunto das informações que nos preocupam. O jornalismo não é só
distribuir informação pro etéreo. Você precisa ter um ponto de encontro
que seja uma referencia pra uma discussao de onde estamos e para onde
vamos. É assim que ele olhava o jornal e é assim que nós vamos continuar
olhando o jornal", disse.
Rodrigo Mesquita (Foto: Nathália Duarte/G1)
Repercussão
O vereador Andrea Matarazzo (PSDB) afirmou que Ruy foi um marco na imprensa brasileira. "Um símbolo da imprensa brasileira e um dos grandes defensores da nossa democracia".
"Eu comecei na redação do Estado com 13 anos e o doutor Ruy já era um
homem importante, me dava muita ateção como um jovem jornalista. E o
papel que ele cunhou como fundador do Jornal da Tarde e como responsável
pela opinião de um jornal tão importante faz desse momento uma
dificuldade maior pra o Brasil, que carece muitas vezes de lideranças
aptas a liderar transições em favor da liberdade, da cidadania, papel
que ele e a familia dele sempre desempenharam com grande competência",
exaltou Gilberto Leifert, presidente do Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária.
Luiz Lara, da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap),
disse que a história de Ruy se confunde com a história do país. "Acho
que o doutor Ruy Mesquita deixa um exemplo de crença na liberdade, na
democracia, na livre iniciativa. Sempre foi um defensor das grandes
causas desse país".
José Roberto Marinho (Foto: Nathália Duarte/G1)
"Ele deixa a lembrança de um homem que lutou. Teve convicção e teve
princípios a vida toda e fez jus a esses princípios da liberdade de
imprensa, da livre iniciativa, da liberdade geral. Soube conduzir muito
bem os jornais e é um grande exemplo pra todos nós", declarou José
Roberto Marinho, vice-presidente de Responsabilidade Social das
Organizações Globo.
"É uma grande perda, sem dúvida, alguém que lutou a vida inteira pela
democracia, pela liberdade em momentos dificéis. Foi um baluarte
reconhecido por todos. Acho que ele nos deixa, mas acima de tudo, deixa
uma causa, uma missão daquilo que temos que buscar", disse Fábio
Colletti Barbosa, presidente-executivo do Grupo Abril. Lázaro de Mello
Brandão, presidente do Bradesco, também lamentou o falecimento de Ruy na
chegada ao velório. "Foi realmente uma perda importante".
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou a coragem de
Mesquita. "Conhecia o Ruy há 60 anos e ele tinha uma capacidade, um
homem que dizia o que pensava, que acreditava, que lutava pelo que
acreditava. Foi também um democrata, um homem que não tinha medo, meias
palavras, dizia o que pensava. Faz falta porque era um jornalista sério,
que buscava informacão precisa, mas também opinava, dizia o que sentia.
Vai deixar um vazio enorme. Eu espero que as novas gerações venham com
essa mesma chama."
Alckmin chega ao velório de Ruy Mesquita
(Foto: Natjália Duarte/G1)
(Foto: Natjália Duarte/G1)
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também falou sobre o
jornalista. "Doutor Ruy vai fazer muita falta. Um grande brasileiro,
dedicou a sua vida décadas para o país ser livre, democrático, ter
liberdade de opinião, liberdade de imprensa. Seus editoriais eram norte
na política, na economia. Doutor Ruy era um homem compromissado com o
bem comum. Ele tinha espírito público. Esse é o grande legado que fica
para as gerações novas de jornalistas e para todos que se dedicam à vida
pública brasileira."
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também esteve no velório. "É
uma perda inestimável. É um homem de conduta muito reta, uma pessoa
muito trabalhadora, muito convicta, realizadora. Um trabalhador da
notícia, uma pessoa sempre aberta a ouvir argumentos, a refletir, a
estabelecer o bom debate na sociedade. Uma pessoa muito admirável.
Lamento muito pela família", disse.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
(Foto: Nathália Duarte/ G1)
O ex-ministro Celso Lafer passou pelo velório. "Doutor Ruy era um homem
que defendia a liberdade. Ao mesmo tempo, um homem de muita coragem,
tinha a coragem das suas convicções. Ele pôs isso a serviço de uma
tarefa excepcional, que foi a missão do jornal. Um jornal que tinha
opinião e que tinha informação. Que sabia separar a informação da
opinião, mas que fez da opinião uma pedagogia de ideias, que é o que
marca o ‘Estadão’ e é o que marcou o ‘Jornal da Tarde’. Uma ausência
tremenda porque não vejo ninguém que reúna essa soma de qualidades que
ele teve e marcaram a vida do Brasil, o jornalismo e o destino do país."
O ex-governador José Serra esteve no Cemitério da Consolação para o
enterro. "Vai ser uma ausência muito sentida no Brasil. O Ruy foi um
grande jornalista, seja no que se refere à qualidade da imprensa ou no
que se refere a sua combatividade. Era um homem de posições definidas",
comentou.
Ex-governador José Serra no enterro de Mesquita
nesta quarta-feira (Foto: Nathália Duarte/G1)
nesta quarta-feira (Foto: Nathália Duarte/G1)
O diretor de redação do jornal “Folha de S.Paulo”, Otavio Frias Filho,
esteve no enterro de Mesquita. "Acho que para todos que estamos ligados
ao jornalismo, à comunicação de um modo geral, é uma perda muito grande.
Era um exemplo de compromisso com a liberdade, padrão de excelência,
qualidade editorial, preocupação com o interesse público. Em todos esses
aspectos é uma perda muito grande para as gerações mais novas."
Histórico
Ruy Mesquita era da terceira geração de uma das mais tradicionais famílias de jornalistas do Brasil e por mais de 60 anos esteve na linha de frente do jornal “O Estado de S. Paulo”, conhecido como “Estadão”. O “Dr. Ruy’, como costumava ser chamado, ocupava o cargo de diretor de opinião do “Estadão” e, nos últimos anos, era o responsável direto pelos editoriais do jornal, considerados entre os melhores da imprensa brasileira.
Ruy Mesquita era da terceira geração de uma das mais tradicionais famílias de jornalistas do Brasil e por mais de 60 anos esteve na linha de frente do jornal “O Estado de S. Paulo”, conhecido como “Estadão”. O “Dr. Ruy’, como costumava ser chamado, ocupava o cargo de diretor de opinião do “Estadão” e, nos últimos anos, era o responsável direto pelos editoriais do jornal, considerados entre os melhores da imprensa brasileira.
Fundado em 1875 com o nome de “A província de São Paulo”, o “Estadão”
é um dos jornais mais antigos e de maior influência no país e, por
muitos anos, foi apontado como conservador, embora Ruy Mesquita gostasse
de defini-lo como uma publicação de ideias liberais e democratas.
Filho de Julio de Mesquita Filho e neto do patriarca Julio Mesquita,
ele nasceu em 16 de abril de 1925 e cursou a Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP), mas trocou os estudos jurídicos pela
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Ao lado do pai, Julio de Mesquita Filho, e já como jornalista, apoiou o
golpe de 1964, mas a família rompeu com o regime no ano seguinte,
quando as eleições foram canceladas. O Estadão foi o primeiro alvo da
censura prévia. Em 1968 chegou a ter a edição apreendida. Os jornais do
grupo - como o Jornal da Tarde, fundado por doutor Ruy em 1966 -,
entraram para a história do jornalismo ao desafiar os militares com a
publicação de poesias e receitas no lugar de textos censurados.
Nos anos 1970, a construção da nova sede na Marginal Tietê, em São
Paulo, deixou o grupo em dificuldades financeiras, contornadas apenas
anos depois. Em 1996, após a morte do irmão Júlio de Mesquita Neto,
doutor Ruy assumiu a direção do "Estadão".
Além do jornal “O Estado de S. Paulo”, o Grupo Estado reúne atualmente a
Rádio Eldorado, a Agência Estado, a Oesp-Mídia, a Oesp-Gráfica e o
portal Estadao.com.br.
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