segunda-feira, 31 de julho de 2017

Maduro enfrenta sanções dos EUA e crescente isolamento internacional

AFP / Juan BARRETO(Arquivo) O presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enfrenta sanções dos Estados Unidos e um crescente isolamento internacional por levar adiante uma Assembleia Constituinte que segundo Washington e seus adversários o tornam um "ditador".
O secretário americano do Tesouro, Steven T. Mnuchin, anunciou nesta segunda-feira que todos os ativos do presidente venezuelano "sob a jurisdição dos Estados Unidos estão congelados", ao denunciar que "as eleições ilegítimas de ontem confirmam que Maduro é um ditador que ignora a vontade do povo".
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca Herbert McMaster declarou que "Maduro não é apenas um líder ruim, agora é também um ditador" que se "une ao exclusivo clube que inclui (Robert) Mugabe, Bashar al-Assad e Kim Jong Un".
O governo de Donald Trump tomou as medidas contra Maduro, no poder desde 2013, um dia depois da eleição dos membros da Assembleia Constituinte, da qual a oposição venezuelana não participou por considerar "fraudulenta".
"Que caralho nos importa o que diz Trump! O que importa é o que diz o povo da Venezuela!" - declarou Maduro ao celebrar o que qualificou de "triunfo histórico" da revolução, com uma votação para a Constituinte que reuniu oito milhões de eleitores (41,5%), segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
"Nasce com grande legitimidade popular. Tem a força da legitimidade de um povo que saiu às ruas para votar. A Assembleia Constituinte deve ter consciência do poder em suas mãos", disse Maduro na madrugada desta segunda-feira na Praça Bolívar, em Caracas.
A partir de agora, Maduro governa com uma Assembleia Constituinte super-poderosa que ameaça radicalizar o conflito com a oposição e provocar um isolamento internacional.
"A Venezuela amanhece mais dividida e isolada do mundo", advertiu Julio Borges, presidente do Parlamento, um dia após a eleição da Assembleia Constituinte.
A votação foi marcada pela violência, com um saldo de dez mortos, elevando a 125 o número de vítimas fatais em quatro meses de manifestações contra o governo.
A Assembleia Constituinte, que terá 545 membros, deverá tomar posse na quarta-feira na sede do Parlamento, controlado desde 2016 pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que não reconhece este novo órgão.
AFP / Anella RETA, Gustavo IZUSA Constituinte venezuelana
Maduro alertou que os deputados da oposição poderão ser alvos da Assembleia Constituinte, que será dotada de super-poderes. "Acabou a sabotagem da Assembleia Nacional, vamos colocar ordem (...) Será necessário retirar a imunidade parlamentar...", advertiu.
A Assembleia Constituinte vai liderar o país por tempo indefinido, estando acima até mesmo do presidente. Será responsável por redigir uma nova Constituição, que a oposição acredita que será usada para instaurar uma ditadura comunista.
O organismo será integrado pelos principais líderes do chavismo, entre eles Diosdado Cabello e Cilia Flores, esposa de Maduro.
"Não reconhecemos este processo fraudulento, para nós é nulo, não existe", disse o líder opositor Henrique Capriles, ao convocar novos protestos.
- Não pode fazer parte de solução -
Na mesma direção dos Estados Unidos, que condenou a eleição "viciada" e anunciou sanções contra Maduro, Colômbia, Panamá, Peru, Argentina, Costa Rica, México e Espanha ignoraram a Constituinte, e o Brasil exortou Maduro a suspender sua instalação.
Já a União Europeia expressou sua "preocupação com o destino da democracia na Venezuela". "A Comissão tem sérias dúvidas sobre se o resultado da eleição pode ser reconhecido", declarou a porta-voz do executivo da UE, Mina Andreeva.
A União Europeia (UE) também apontou a responsabilidade de Caracas para "restaurar o espírito da Constituição e a confiança perdida" com sua tentativa de "estabelecer instituições paralelas".
O ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, pediu uma "ação urgente" do governo da Venezuela para deter a divisão do país, que está "a beira do desastre".
A Venezuela atravessa uma severa crise econômica, com prolongada escassez de medicamentos e alimentos, uma inflação que poderia chegar a 720% e uma queda do PIB de 12%, segundo do FMI.
- Ambição ditatorial -
A Procuradora-Geral da Venezuela, Luisa Ortega, afirmou que o país está diante de uma "ambição ditatorial" de Maduro, e que não reconhece a Constituinte.
"Eu me dirijo ao país (...) para desconhecer a origem, o processo e suposto resultado da imoral Constituinte presidencial (...). Estamos frente a uma ambição ditatorial".
"Essa Constituinte presidencial não tem legitimidade. É uma piada com o povo e sua soberania. Veremos um poder absoluto nas mãos de uma minoria", sentenciou a funcionária.
Maduro e sua Constituinte contam com apoio dos poderes Judiciário, Eleitoral e Militar. Mas 80% dos venezuelanos rejeitam seu gestão e 72% seu projeto, segundo o instituto Datanálisis.
Maduro está muito enfraquecido e sendo pressionado. Se respeitar a Constituição e convocar eleições, o chavismo seria perdedor. Com essa aposta, rejeitada em massa no país e no exterior, tenta ganhar tempo e se perpetuar no poder", disse à AFP o presidente do Inter-American Dialogue, Michael Shifter.
"Esta Constituinte nasce banhada em sangue. Nasce ilegítima porque é muito difícil auditar a quantidade de pessoas, mas tecnicamente podemos verificar que aconteceram muitas irregularidades", disse o analista Nícmer Evans, um socialista crítico de Maduro.
"O socialismo venezuelano não é sustentável, diferentemente do que aconteceu em Cuba entre 1961 e 1990, que tinha um poderoso aliado político na União Soviética que fornecia os recursos em troca de fidelidade", indicou Paul Webster Hare, da Universidade de Boston e ex-embaixador britânico em Havana.

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