domingo, 30 de março de 2014

Barragem para não faltar água na estiagem

Publicado em 29/03/2014


Flávia Pizelli - Rio Rural
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Agricultores reunidos na propriedade de Durval Filho
Flávia Pizelli - Rio Rural
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Irrigação durante 90 minutos todos os dias na área de pasto da propriedade rural

Da Assessoria

Nos últimos três meses, choveu apenas 50 milímetros na Microbacia Brejo da Piedade, em Quissamã, na Região Norte Fluminense. Embora este volume seja aproximadamente 10 vezes menos do que o previsto para a época, o agricultor familiar Durval de Souza Filho não sofreu com a falta d'água. Mesmo com a estiagem, uma barragem subterrânea implantada pelo Programa Rio Rural, em setembro de 2009, vem garantindo a disponibilidade hídrica na propriedade.

A tecnologia, que permite o armazenamento de água sob o solo, é uma das práticas incentivadas pelo Rio Rural para promover a conservação e o uso racional de água. A barragem foi instalada a partir de uma pesquisa realizada em parceria com aEmpresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio) e o agricultor.

Na última segunda-feira, técnicos da Emater-Rio que executam o Programa Rio Rural em microbacias de outros municípios do Norte e do Noroeste Fluminense participaram de uma visita técnica à propriedade para conhecer os resultados do projeto com o objetivo de disseminar a tecnologia entre os demais produtores rurais do Estado do Rio de Janeiro. 

Técnica viável em outros municípios

Os extensionistas rurais, que atuam em áreas que vêm enfrentando a escassez de chuvas ouviram o relato do coordenador da unidade de pesquisa, o agricultor e engenheiro agrônomo José Márcio Ferreira.
A barragem subterrânea foi instalada no local onde, até a década de 1960, existia uma lagoa. "Eu aprendi a nadar aqui, nessa região", lembra-se Durval. "Depois começaram a derrubar tudo que era mata em volta para plantar cana-de-açúcar e a nossa lagoa acabou", conta o produtor.

Segundo o pesquisador José Márcio, desde aquela época o índice pluviométrico mudou na região. "O agricultor nos contava a história da propriedade e pudemos comprovar um veio de água subterrâneo, onde aplicamos a técnica. Assim conseguimos mudar a expectativa para esta propriedade e podemos dizer que a técnica é possível em outros municípios da Região Norte Fluminense", revela o engenheiro agrônomo aos técnicos da Emater-Rio.

Produção de leite registra aumento de 30% 

Com a implantação da barragem, o agricultor pôde investir também em um pastejo rotacionado, financiado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e em seguida melhorou a qualidade do rebanho de leite, através do Programa Rio Genética, da Secretaria Estadual de Agricultura. Tudo isso só foi possível graças à disponibilidade de água, base para toda atividade agropecuária.

Desde que a captação de água na barragem começou, a produção de leite das 10 vacas da propriedade aumentou 30%, segundo o produtor rural. De acordo com dados da pesquisa, a barragem acumulou mais de 100 mil litros de água e, por dia, são gastos 22 mil litros para a irrigação do pasto. "A gente liga a irrigação por uma hora e meia e, não passa muito tempo, o nível da água volta ao normal. Isso aqui mudou a minha propriedade", orgulha-se Durval. "Muita gente me chamava de doido, falava que não ia dar certo. Agora quando vejo os vizinhos sem água, tenho orgulho da minha teimosia", diz o agricultor para os visitantes.

Sistema é usado no semiárido brasileiro

A barragem subterrânea é feita com a instalação de uma lona plástica na parte mais baixa do terreno, impedindo que a água das chuvas escoe e permitindo um reservatório para a irrigação. Na propriedade de Durval foi colocada uma lona com 100 metros de extensão e 2,5 metros de profundidade. O pesquisador da Pesagro-Rio lembra que as barragens subterrâneas são utilizadas com sucesso nas regiões do semiárido brasileiro e que o período de estiagem na Região Norte Fluminense pode chegar a 10 meses. "Este ano, por exemplo, o verão foi totalmente atípico. É muito difícil que chova agora nas estações do outono e do inverno. Aqui o agricultor não vai ter crise de água", explicou José Márcio. 

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