Barragem para não faltar água na estiagem
Publicado em 29/03/2014
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Da Assessoria
Nos últimos três meses, choveu apenas 50 milímetros na Microbacia Brejo da Piedade, em Quissamã, na Região Norte Fluminense. Embora este volume seja aproximadamente 10 vezes menos do que o previsto para a época, o agricultor familiar Durval de Souza Filho não sofreu com a falta d'água. Mesmo com a estiagem, uma barragem subterrânea implantada pelo Programa Rio Rural, em setembro de 2009, vem garantindo a disponibilidade hídrica na propriedade.
A tecnologia, que permite o armazenamento de água sob o solo, é uma das práticas incentivadas pelo Rio Rural para promover a conservação e o uso racional de água. A barragem foi instalada a partir de uma pesquisa realizada em parceria com aEmpresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio) e o agricultor.
Na última segunda-feira, técnicos da Emater-Rio que executam o Programa Rio Rural em microbacias de outros municípios do Norte e do Noroeste Fluminense participaram de uma visita técnica à propriedade para conhecer os resultados do projeto com o objetivo de disseminar a tecnologia entre os demais produtores rurais do Estado do Rio de Janeiro.
Técnica viável em outros municípios
Os extensionistas rurais, que atuam em áreas que vêm enfrentando a escassez de chuvas ouviram o relato do coordenador da unidade de pesquisa, o agricultor e engenheiro agrônomo José Márcio Ferreira.
A barragem subterrânea foi instalada no local onde, até a década de 1960, existia uma lagoa. "Eu aprendi a nadar aqui, nessa região", lembra-se Durval. "Depois começaram a derrubar tudo que era mata em volta para plantar cana-de-açúcar e a nossa lagoa acabou", conta o produtor.
Segundo o pesquisador José Márcio, desde aquela época o índice pluviométrico mudou na região. "O agricultor nos contava a história da propriedade e pudemos comprovar um veio de água subterrâneo, onde aplicamos a técnica. Assim conseguimos mudar a expectativa para esta propriedade e podemos dizer que a técnica é possível em outros municípios da Região Norte Fluminense", revela o engenheiro agrônomo aos técnicos da Emater-Rio.
Produção de leite registra aumento de 30%
Com a implantação da barragem, o agricultor pôde investir também em um pastejo rotacionado, financiado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e em seguida melhorou a qualidade do rebanho de leite, através do Programa Rio Genética, da Secretaria Estadual de Agricultura. Tudo isso só foi possível graças à disponibilidade de água, base para toda atividade agropecuária.
Desde que a captação de água na barragem começou, a produção de leite das 10 vacas da propriedade aumentou 30%, segundo o produtor rural. De acordo com dados da pesquisa, a barragem acumulou mais de 100 mil litros de água e, por dia, são gastos 22 mil litros para a irrigação do pasto. "A gente liga a irrigação por uma hora e meia e, não passa muito tempo, o nível da água volta ao normal. Isso aqui mudou a minha propriedade", orgulha-se Durval. "Muita gente me chamava de doido, falava que não ia dar certo. Agora quando vejo os vizinhos sem água, tenho orgulho da minha teimosia", diz o agricultor para os visitantes.
Sistema é usado no semiárido brasileiro
A barragem subterrânea é feita com a instalação de uma lona plástica na parte mais baixa do terreno, impedindo que a água das chuvas escoe e permitindo um reservatório para a irrigação. Na propriedade de Durval foi colocada uma lona com 100 metros de extensão e 2,5 metros de profundidade. O pesquisador da Pesagro-Rio lembra que as barragens subterrâneas são utilizadas com sucesso nas regiões do semiárido brasileiro e que o período de estiagem na Região Norte Fluminense pode chegar a 10 meses. "Este ano, por exemplo, o verão foi totalmente atípico. É muito difícil que chova agora nas estações do outono e do inverno. Aqui o agricultor não vai ter crise de água", explicou José Márcio.
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