segunda-feira, 31 de março de 2014

Casa de Parto da prefeitura completa dez anos com mais de 2.300 nascimentos

26/03/2014 12:18:00  » Autor: Juliana Romar/Fotos: Ricardo Cassiano

Um ambiente acolhedor, aconchegante, familiar e, principalmente, seguro e respeitoso. Esse é o local que a aderecista Albanessa Lourenço, de 29 anos, escolheu para dar à luz seus três filhos: a Casa de Parto David Capistrano Filho, que completou dez anos no último dia 8 de março, trazendo ao mundo bebês da forma mais natural e humana e registrando a marca de 2.341 partos realizados.

Vinculada à rede municipal de saúde, a unidade é a única casa de parto do Rio de Janeiro e funciona 24 horas por dia. Localizada na Avenida Pedro da Cunha, em Realengo, a David Capistrano Filho faz o pré-natal e o parto de grávidas consideradas de baixo risco, com idades entre 14 e 41 anos, com o desejo de parir ativamente, respeitando o evento fisiológico, sem intervenções médicas, com direito a escuta, manifestações verbais e corporais, indo na contramão do modelo medicalizado do parto atual, a cesárea.

- Moro perto e sempre passei por aqui e não entendia o que era a Casa de Parto. Um dia resolvi entrar e gostei muito do trabalho que fazem na unidade. Quando fiquei grávida pela primeira vez, não tive dúvidas de que seria aqui que o Maicon nasceria. Minha mãe disse que eu era doida, que aqui não tinha médico e que era arriscado. Mas segui meu coração.Não é à toa que a Isabella vai nascer aqui também, onde encontro paz, tranquilidade, carinho e atenção. Tenho muita confiança em todos os profissionais. Sinto como se fosse uma extensão da minha casa e tenho aqui uma grande família – contou Albanessa, mãe de Maicon, 10 anos, de Marlon, 7 anos, e agora da Isabella.


O objetivo da Casa de Parto é oferecer à mulher que dará a luz a possibilidade de escolher como será aquele momento de parir sozinha com seus instintos mais primitivos, com aroma, música, massagem, água morna, de cócoras, de lado, em pé, na água, em quatro apoios, e com a participação e apoio de familiares, que podem acompanhar de perto o nascimento do bebê.


Para iniciar o pré-natal na unidade, a gestante precisa participar inicialmente doGrupo de Acolhimento, em que recebe informações sobre a proposta da Casa de Parto, os profissionais que trabalham na unidade, os exames a serem realizados, a presença do acompanhante em todo processo, o Plano de Parto, as consultas individuais, o seguimento após o parto e a participação nas oficinas e atividades, como Grupo de Adolescente, Oficina Culinária, Chá da Vovó, Oficinas de Gestantes, Preparação para o Parto Humanizado e Roda de Conversa.

As oficinas acontecem em uma sala confortável com pufes, almofadas, poltronas, colchonetes, televisão, dvd, ar-condicionado, revistas e espelho. É nesse local que a gestante e seus acompanhantes recebem informações que facilitam o entendimento do parto como processo fisiológico. Ali são trabalhados conceitos sobre as modificações do organismo, transformações sociais, amamentação, trabalho de parto e parto e cuidados com o bebê, que são debatidos através de dramatizações, vídeos, gincanas e dinâmicas diversas.

E foi justamente por frequentar essas oficinas que o técnico em radiologia André Muza, 43 anos, morador de Guaratiba, mudou a sua opinião em relação ao parto natural. Foi sua esposa,  Jorgeane Dourado, 29 anos, quem o levou à Casa de Parto pela primeira vez.

- Nunca pensei em ter filhos até conhecer a Jorgeane. Também achava que se um dia acontecesse teria de ser cesárea de qualquer jeito. Não aceitava muito bem essa história de parto normal. Era contra, mas ela me fez mudar o pensamento e pude realmente perceber o quanto é importante para a mulher esse momento e como não há risco nesse tipo de procedimento, pello contrário. E aqui na Casa de Parto, nós nos sentimos como se estivéssemos em casa. É um ambiente muito familiar, com um tratamento muito carinhoso e o melhor é que eu pude participar com ela de todas as etapas, inclusive cortei o cordão umbilical do meu filho. Fiquei realmente muito emocionado – contou o pai do pequeno Samuel, nascido na madrugada do dia 13 de março, com 3850kg e 52 cm.

Na Casa de Parto David Capistrano Filho o parto é feito por enfermeiras especializadas em obstetrícia, sem a presença de médicos. Uma ambulância fica à disposição 24 horas para, em casos de emergência durante o parto, levar a grávida para o Hospital Municipal da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu, a oito minutos do local. Também fazem parte da equipe de profissionais da unidade assistentes sociais, nutricionistas e pessoal administrativo.

Em dez anos de funcionamento, a casa só teve dois casos tristes de perdas de bebês, que nasceram com má-formação, conforme laudo pericial do Instituto Médico Legal (IML).

- Trabalhamos com muito profissionalismo, cuidado e respeito. O que queremos é mudar o conceito atual de parto hospitalar, centrado na figura do médico. Nosso atendimento é diferenciado, com zelo e carinho, e toda consulta é uma grande aprendizagem. Quando uma gestante falta uma consulta ligamos ou vamos até sua residência saber se está tudo bem. Acho que por isso que recebemos grávidas de várias classes sociais e regiões da cidade. Nosso objetivo é atender o desejo da mulher para o parto da forma mais natural – explicou a diretora da unidade, Leila Azevedo.
Dos casos mais emblemáticos nesses dez anos, Leila destaca um que emociona todos os profissionais da casa:
- Há quatro anos um casal de alemães que estava no Brasil estudando e trabalhando descobriu que estava 'grávido'. Como lá na Europa os casos de cesárea são uma exceção, quando eles viram que aqui no Brasil é justamente o oposto ficaram apavorados. De alguma maneira chegaram até nós e tiveram seu primeiro filho aqui na Casa de Parto. No ano passado, eles nos procuraram novamente, pois estavam 'grávidos' do segundo filho. A diferença é que dessa vez estavam morando de volta na Alemanha. Gostaram tanto do trabalho que realizamos que resolveram ter sua filha aqui conosco mais uma vez. E vieram para o Brasil só para isso. É algo que realmente nos comove. É um orgulho ver o resultado do nosso trabalho ultrapassando fronteiras.

De acordo com o perfil de pacientes da Casa de Parto David Capistrano Filho, 30% das mulheres que têm bebê na unidade são adolescentes; mais de 90% das parturientes tiveram acompanhantes durante o trabalho de parto e parto; a posição lateral foi a que mais se destacou no momento do parto; a taxa de episiotomia (incisão efetuada na região do períneo para ajudar na passagem do bebê) é menor que 1%; o índice de Apgar (importante na avaliação da asfixia neonatal) no 5º minuto de todos os bebês se encontra entre sete e dez; os maiores casos de transferências acontecem ainda no pré-natal, e tem como maior causa, aumento dos níveis tensionais e presença de mecônio. 

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