domingo, 2 de março de 2014

Viviane Araújo e outras rainhas falam dos sacrifícios que fizeram para estar na Avenida

Viviane vai desfilar pelo sétimo ano como rainha do Salgueiro Foto: Roberto Moreyra
Camila Elias e Sara Paixão
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Viviane Araújo dispensa apresentações. Seu reinado leva magia à Apoteose, incendiando a bateria furiosa há sete anos. E, mais uma vez, quando cruzar a Avenida, embelezando o enredo do Salgueiro sobre a criação do universo, não vai ser diferente. Aos 38 anos, ela inspira, inclusive, outras rainhas de bateria.
— A cada ano a espera por mim aumenta, o que me deixa muito feliz e com um friozinho na barriga. Depois que piso na Avenida, só quero sentir essa energia e me entrego — derrete-se Vivi, que tem 19 anos de carnaval na Sapucaí.
O truque para fazer de sua performance um espetáculo à parte está no amor pelo que faz, e não na necessidade de aparecer.
— Tenho uma química e um entrosamento muito bom com os ritmistas. Talvez seja porque adoro estar ali. É mágico — vibra, fazendo um trocadilho com a fantasia que veste, de mágica.
O corpo também é alvo de elogios. Encantar pela formosura exige sacrifício.
— Dois meses antes do carnaval, eu corto tudo de gostoso. Não amo malhar, mas, nessa época, me cobro mais para diminuir as medidas — conta Vivi, pronta para explodir o coração de felicidade, não só durante o desfile, mas também mais à frente: — Vou atuar na próxima novela do Aguinaldo Silva. Estou estudando para realizar esse sonho.
Layanara faz sua estreia no Grupo Especial
Layanara faz sua estreia no Grupo Especial Foto: Paulo Mumia
Laynara Teles - Império da Tijuca
Os pés e o rebolado de Laynara Teles, de 24 anos, estão prontos para acompanhar a batida do coração, que está mais forte. Filha do presidente da escola, Tê, e à frente da bateria do Império da Tijuca há nove anos, ela reina pela primeira vez no Grupo Especial. A disposição para encantar a Sapucaí, com o enredo “Batuk”, é de um ano inteiro. No barracão, ela também compra aviamentos e vende fantasias.
— Ainda nem caiu a ficha que estamos entre as grandes. Sei sambar, e agora quero estar mais bonita. Passei a pegar pesado na musculação. Estou solteira, a fantasia diminuiu (risos). Este ano é mais ousada, valorizando o corpo. E com muitas penas de faisão imperial para famosa nenhuma botar defeito — brinca Laynara, que assumiu a posição quando Juliana Alves (rainha do Império em 2005) deixou o posto.
Na Sapucaí, ela representa a dádiva da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. No dia a dia, há quem veja semelhança entre ela e índia. Por isso, a escolha da fantasia para o ensaio da Canal Extra:
— Muitos me chamam de índia. Sempre quis me vestir assim para curtir o carnaval, mas não sobra tempo — diz, agradecendo o reinado: — Muitas cobiçaram o meu posto, mas meu pai não vendeu. Quero mostrar às meninas que são da comunidade que elas também têm condições plenas de estar ali.
Juliana Paiva vai desfilar no carro abre-alas
Juliana Paiva vai desfilar no carro abre-alas Foto: Urbano Erbiste
Juliana Paixa - Grande Rio
Musa da Grande Rio, a atriz Juliana Paiva, de 20 anos, se comportou como uma diva na sessão de fotos para a Canal Extra. Com alegria, ela representa a escola de Caxias no lugar da rainha Christiane Torloni, que alegou não ter disponibilidade para vestir a fantasia.
Carioca da Barra da Tijuca, a jovem que morou por três anos em Salvador encarnou uma baianinha no ensaio.
— Um dos melhores carnavais da minha vida foi lá, no ano passado. Eu estava no trio da Ivete Sangalo com vários amigos, já começava a ter o reconhecimento do público pelo meu trabalho em “Malhação” e, de repente, vi o Sol se pôr no Farol da Barra. Parecia uma celebração daquele momento que eu estava vivendo — relembra ela, que deu início ao seu romance com a Grande Rio no ano passado: — Sai com camisa de diretoria. Agora, venho no abre-alas.
No alto do carro, a nove metros do chão, Juliana virá com a fantasia “Morrer de amor”, nome de uma canção da cantora Maysa, celebrada no desfile por sua relação com a cidade de Maricá, o enredo da escola.
— Não estou com medo de vir no alto. Confio muito na escola.
Se a rápida ascensão dentro da agremiação pode culminar com uma futura mudança de posto, Juliana não sabe, mas curte a ideia de virar rainha.
— Nunca me imaginei nesse posto, mas acho lindo. A Juliana Alves (rainha da Unidos da Tijuca) é minha amiga, e a Paolla Oliveira (ex-rainha da Grande Rio) também deu show. Não é algo que eu descarte — diz a atriz, que se garante no quesito samba no pé: — Não sei se está nota 10, mas para me divertir está bom.
Rafaela Gomes, de 15 anos, é a rainha caçula do carnaval
Rafaela Gomes, de 15 anos, é a rainha caçula do carnaval Foto: Urbano Erbiste
Raphaela Gomes - São Clemente
Estreante como rainha de bateria, Raphaela Gomes, de 15 anos, é a mais jovem a inspirar o batidão neste carnaval. Tudo sob os olhares do pai, o presidente da São Clemente, Renato Gomes. Representando uma funkeira, no enredo “Favela”, ela pede atenção do público para o samba no pé. Fio dental, nem pensar!
— Meu pai é muito ciumento. Se coloco roupa curta, ele reclama. E eu nunca fui de exibir o meu corpo. Minha calcinha será tipo um short jeans (risos) — avisa ela, que desfilou dez anos como princesa e é sucessora da prima Bruna Almeida, que deixou o posto ao ficar grávida.
A adolescente, entretanto, não esconde a vaidade. Sem exageros, para não ficar um mulherão.
— Tenho cuidado redobrado com a aparência. Faço musculação leve e, desde outubro, sigo uma alimentação mais equilibrada. Gosto de estar sempre bem.
A estudante admite que, como a maioria das meninas, já quis se inspirar na mãe para se vestir.
— Já coloquei uma fantasia de colombina dela, mas ficou grande (risos) — lembra Raphaela, que não se intimida diante de rainhas mais velhas: — Quero que a escola se orgulhe. Vou mostrar o que é samba no pé.
Evelyn Bastos - Mangueira
A majestade vem de berço. A mãe, Valéria Bastos, reinou grávida à frente da bateria da Mangueira, em 1993. A filha, Evelyn Bastos, de 20 anos, foi rainha-mirim, rainha do Carnaval 2013 e musa do Caldeirão do Huck, em 2012. Hoje, estreia no cobiçado posto da Verde e Rosa, com o enredo sobre festas populares.
— É uma responsabilidade retomar as raízes. Muitos acham que o lugar deve ser de celebridade, mas a escola não precisa. Tanto que o Chiquinho (presidente) decidiu não vender mais o cargo. O que a gente espera é mangueirense de verdade — diz a rainha nascida e criada na comunidade.
Estudante de Educação Física, ela treina resistência para sambar com o próprio namorado, o personal trainer Renan Brandão. Nem precisava, ela é passista desde os 11 anos. E, apesar de estar na escola há tempos, já vestiu outras fantasias, como a de havaiana:
— Na música “É o tchan no Havaí”, eu fingia ser a Carla Perez e vestia havaiana azul. Minha prima, mais negra, era a Scheila Carvalho, de vermelho.
Raíssa completa 12 carnavais à frente da bateria da Beija-Flor
Raíssa completa 12 carnavais à frente da bateria da Beija-Flor Foto: Paulo Mumia
Raíssa - Beija-Flor
Apaixonada por dança do ventre desde pequena, Raíssa Oliveira incorporou a odalisca com naturalidade:
— Faço aulas desde os 5 anos — conta ela, empolgada.
Ainda se despindo da fantasia, a jovem de 23 anos reage com veemência à pergunta se tem silicone no bumbum.
— Ainda esse assunto? Quer apertar? — propõe a rainha de bateria da Beija-Flor.
Teste feito — de fato não parece haver prótese — Raíssa continua e conta de onde vem sua herança.
— Já viu a minha mãe, Cristina? Herdei a bunda dela. É genético. E eu cresci, gente! — avisa.
Raíssa era uma menina quando assumiu o posto de rainha. Lá se vão 12 anos e, hoje, ela sabe que a escola produz candidatas em série para substituí-la.
— Ninguém é eterno, tudo tem seu tempo. E tudo o que eu tenho eu agradeço a Beija-Flor. Sei que as meninas merecem ter uma oportunidade, existe uma nova geração de pequenininhas que ficam no ensaio sambando. Ontem, era eu chamando as passistas de tia. Hoje, essas meninas que me chamam — diverte-se.
Na reverência que a escola fará a José Bonifácio, o Boni, Raíssa será estrela do cinema mudo. Ela virá junto do homenageado e da bateria, todos vestidos de Charles Chaplin.
— Convivo com esses 350 homens (os ritmistas) que são como meus pais.


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