O
vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o ministro da Defesa, Celso
Amorim, foram vaiados neste sábado por grande parte dos parentes e
convidados de 476 cadetes durante a cerimônia anual de Entrega de
Espadins na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, no
sul fluminense. Os dois chegaram ao pátio interno da Aman, onde eram
aguardados pelo público sob intenso calor, com duas horas de atraso.
Muitos parentes de militares estavam em pé desde as 8 horas e usavam
guarda-chuvas para se proteger do sol de meio-dia. Alguns mais idosos
passaram mal por causa do forte calor - a reportagem perguntou o número
de atendimentos no fim da cerimônia, mas não obteve resposta. O bancário
Irineu Roque, de 55 anos, que mora no Rio Grande do Sul, viajou até
Resende para acompanhar a formatura militar do sobrinho. "Acho que foi
um descuido inaceitável", disse ele. "Entendi que (o protesto) foi pelo
atraso. Autoridades têm suas limitações, mas têm facilidades também",
acrescentou. A estudante de publicidade e noiva de militar Naiara
Araújo, de 21 anos, foi uma das poucas a não vaiar. "Não era necessário,
a gente tem a rua para fazer isso. O momento aqui é de comemoração",
justificou.
Em entrevista após a cerimônia, Temer atribuiu as vaias ao atraso e
disse que a atitude das famílias era justificável, classificando a
reação de "modestíssima". "Esse pessoal está sob sol inclemente. Se eu
estivesse aí, não sei se também não me incorporaria", declarou o
vice-presidente. Ele disse que pensou em desmarcar sua participação, mas
acabou decidindo ir mesmo atrasado. Segundo assessores, Temer saiu de
São Paulo de avião e não teve teto para pousar em Guaratinguetá, por
isso precisou ir até São José dos Campos, de onde seguiu de helicóptero
militar até a Aman. O vice-presidente não mencionou isso na entrevista.
"Acho que foi esta a razão (o atraso), não vejo outra", disse Temer,
referindo-se ao protesto. "Afinal, os cadetes e suas famílias são
pessoas disciplinadíssimas, mas para quem ficou sob calor insuportável
por 2 ou 3 horas talvez tenha sido uma modestíssima reação",
acrescentou.
Amorim saiu de carro do Rio e também chegou atrasado. Indagado se as
manifestações haviam chegado à academia militar, o ministro classificou o
protesto como "natural" para quem ficou esperando tanto tempo no calor,
mas ressalvou que "depois, quando houve referência a mim e ao
vice-presidente (nos discursos), não houve nenhuma reação". "Todos somos
seres humanos", disse o ministro, atribuindo as vaias "ao sol e a
coisas que estão um pouco fora do nosso controle".
Sem desculpa
Temer e Amorim não se desculparam pelo atraso. O acesso à Aman fica
na Via Dutra, a 143 km do Rio e a 260 km de São Paulo. A entrega de
espadins é uma das mais tradicionais cerimônias do calendário acadêmico
militar. Réplica reduzida da espada de combate de Duque de Caxias, o
espadim é entregue desde a década de 1930 aos cadetes que realizam o
curso básico. Ao concluir o curso, após quatro anos, eles o devolvem e
recebem a espada maior de oficial.
Dos 476 cadetes que participaram da cerimônia de ontem, a maioria é
das regiões sudeste (277) e sul (82). Também estão matriculados no 1º
ano da Aman 8 estrangeiros - de Angola, Nigéria, Paraguai, Peru,
Suriname (2) e Venezuela (2). O nome da turma homenageia a sangrenta
Batalha do Tuiuti, ocorrida em 24 de maio de 1866.
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