— Isso leva exatamente à
duração indefinida de processos com todas as consequências. Começa a ter
discussão sobre prescrição, não faz sentido. Você nota que não tem em
outros lugares. Começa a ocorrer situações das mais diversas. Eu sempre
digo o seguinte: a gente tem que rezar para não perder o senso de
justiça. Mas se Deus não nos ajuda, pelo menos que rezemos para que não
percamos o senso do ridículo — declarou Mendes.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse na
tarde desta terça-feira (17) que, caso a corte valide o recurso
conhecido como embargos infringentes e permita um novo um novo
julgamento para 12 dos 25 condenados do mensalão, é preciso que se
estabeleçam ritos e prazos para que o processo possa chegar ao fim num
tempo razoável.
"Tenho a impressão de que é importante, desde logo, estabelecer ritos,
prazos, para encaminhar este assunto. Quer dizer, que o tema não fique
solto (...) Estou dizendo é que haja, de fato, uma responsabilidade em
relação a isso.
Isso aqui não é um tribunal para ficar assando pizza e
nem é um tribunal bolivariano", disse.
O ministro também voltou a defender as penas aplicadas aos condenados na
primeira etapa do mensalão, como o ex-ministro José Dirceu, que pelo
crime de formação de quadrilha pegou 2 anos e 11 meses.
Ao citar as penas, ele ainda rebateu críticas feitas pelo ministro
Ricardo Lewandowski que, ao votar por condenações menores durante a
análise de recursos, alegou que a corte deu penas altas para evitar a
prescrição dos crimes, e não porque os réus mereciam.
"O tribunal não fixaria pena para prescrever até porque não cabia no
caso. Não se tratava do motorista da quadrilha, de alguém que apenas era
auxiliar, segundo as premissas estabelecidas pelo tribunal, era de fato
o chefe da quadrilha".
Ele também criticou o modelo proposto pelo ministro Teori Zavascki, que
votou pela redução das penas por formação de quadrilha alegando que ela
ficou desproporcional à de outros crimes.
Para o ministro, a discussão está exaurida e já não há mais sentido em
se prolongar o debate. "Isso fica transitando e como todo mundo acaba
esquecendo e já está de saco cheio também, porque ninguém aguenta mais
esse negócio".
FORO PRIVILEGIADO
Mendes, que ao longo de sua carreira defendeu a existência do foro privilegiado, reconheceu que há alguns problemas no sistema.
Para ele, o fato de processos contra deputados, como o de Natan Donadon
(ex-PMDB-RO), chegarem ao fim e terem resultados efetivos seria um dos
pontos positivos do foro. Mas, por outro lado, o acúmulo de processos
criminais no STF inviabilizam o funcionamento do tribunal.
Neste contexto, Mendes fez novas críticas aos embargos infringentes que, em sua opinião, levaria a corte ao "caos".
"Na quadra atual que a gente está vivenciado, de fato, há necessidade de
revisão do modelo. Estamos com 400 ações penais. Se imaginar julgar
embargos infringentes isso vai levar o tribunal para o caos. Eu sempre
defendi a prerrogativa de foro. A prova que a prerrogativa de foro
funciona é este caso que está aqui, Donadon também. Agora, que
funcionalmente está difícil para o tribunal exercer suas funções, isso é
evidente. O importante é achar algum modelo que funcione".
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